Não é de admirar que os tapetes dos numerosos grupos caucasianos desfrutam de uma popularidade universal entre os colecionadores de tapetes orientais antigos de hoje. Tanto os tapetes de pelos mais grossos das regiões montanhosas de Kazak, Karabagh e Gendje, como os tapetes feitos com pelos mais finos de Kuba, Shirvan e do Daguestão, das encostas mais baixas do Mar Cáspio, são igualmente encantadores. Estes tapetes são os últimos vestígios de uma antiga tradição da confecção de tapetes que praticamente desapareceu. São exemplos vivos que nos falam da alegria e da profunda compreensão da vida que os seus criadores, os artistas das montanhas do Cáucaso, possuíam.
A região do Cáucaso é um mosaico de grupos étnicos. Importante eixo entre as estepes russas ao norte e os impérios persa e turco ao sul, o território do Cáucaso é uma passagem do oeste (Europa) para o leste (Ásia) e tem sido, desde a mais remota antiguidade, uma área de constante ambição de seus vizinhos. As repetidas invasões que o Cáucaso sofreu ao longo da história deixaram as suas marcas e foram adotados e adaptados pelos povos caucasianos.
No passado distante, as hordas invasoras dos cimérios e dos citas vindos das estepes da Eurásia atacaram o Cáucaso. Depois, foi a vez dos gregos e dos romanos, se infiltrarem através do Bósforo. Mais tarde, a Pérsia e o Bizâncio disputaram o controle desta passagem entre a Ásia e a Europa. Após o século XII, os árabes, os seljúcidas, os turcos, os mongóis de Genghis Khan e de Timur atacaram os povos caucasianos. Com a queda de Constantinopla, os persas e os turcos retomaram o ataque e lutaram novamente pelo Cáucaso. Quando os russos finalmente tomaram o Cáucaso, encontraram as influências deixadas pelos inúmeros invasores que foram ressignificados pelos caucasianos.
Toda esta confluência cultural aparece de alguma forma nas obras artísticas dos tapetes caucasianos. Não é surpreendente que existem cerca de 115 diferentes padrões ou designs entre os tapetes produzidos nesta região.
O que mais chama a atenção no antigo tapete caucasiano é o uso ousado da cor. O equilíbrio de cores não é alcançado pela proximidade de cores e tons, mas pelo contraste de cores fortes. Os vermelhos, azuis, verdes e amarelos predominantes poderiam parecer conflitantes, mas na realidade, os artistas caucasianos criaram combinações de cores tão harmoniosas que foram admiradas e estudadas por artistas ocidentais durante séculos.
O Cáucaso é um dos centros de produção de tapetes do mundo. Devido à sua proximidade com as rotas da seda, os seus artistas foram influenciados por muitas tradições de confecção de tapetes, desde o Egito à China. Os povos caucasianos, trabalhando em teares pequenos e portáteis, criaram tapetes sofisticados e transformaram figuras mitológicas em proporções geométricas simples e estilizadas com espontaneidade.
Os designs de dragão, botéh, flor, arabesco, folha de palmeira, pássaros, animais, nuvem e caranguejo são muito comuns. Às vezes, vários deles são encontrados em um único tapete antigo! No meio de poderosos diamantes geométricos pode haver um pequeno cavalo, um pássaro ou uma gazela. Determinação e intensidade andam lado a lado com o bom humor e a leveza e demonstram a destreza dos tecelões caucasianos.
Caucasiano Kuba, 1875
Os caucasianos teciam tapetes para o uso diário, para satisfazer sua criatividade e produzir harmonia em seus interiores. Consequentemente, faziam este trabalho com um esmero e dedicação que hoje nos é quase incompreensível. A lã que usavam proporcionava um nível superior de resiliência e brilho porque era tosquiada das ovelhas que eles próprios pastavam nas altas montanhas. Em seguida, lavavam a lã repetidamente para que o tapete pudesse absorver completamente os corantes vegetais. Para os tecelões caucasianos o tapete não se tornava uma obra de arte apenas quando terminavam de confeccioná-lo. Em vez disso, a arte consistia em executar cada etapa do processo de confecção com equilíbrio e harmonia até a conclusão da peça. A arte estava no processo, não no produto final.
A composição do design dos tapetes caucasianos é formada por um padrão de motivos com variação de tamanhos. O emprego de motivos geométricos de pequena escala, de forma incidental e espontânea, varia consideravelmente e, consequentemente esta variação afeta a simetria dos tapetes. As bordas também empregam esses padrões, na maioria das vezes apresentadas por diferentes variedades de videiras. Uma analogia aproximada para o uso do repertório do design dos tapetes caucasianos poderia ser um livro de culinária – receitas padrão com variações regionais e temperos elaborados pelo próprio artista.
Caucasiano Karagashli, 1875
Para o mundo exterior os tapetes caucasianos representam uma arte de formas e cores inter-relacionadas que possuem intensidade – saturação e pureza. As formas são ordenadas de acordo com certos princípios. Uma delas é a centralização. Os tapetes são delimitados por uma ou mais bordas que emoldura o campo, cujo o centro é destacado pelo tamanho, disposição, número e cor dos designs. Existem, no entanto, tapetes cujo o design é formado por uma repetição de motivos que se espalham por toda a área e que, portanto, não são centralizados.
Outra característica importante é o contraste entre cores, criado por inúmeras maneiras: a composição de determinadas cores, por exemplo o azul e o amarelo; a utilização do branco, tanto como destaque como fundo e as mudanças abruptas de escala, ou seja, diferenças substanciais no tamanho dos motivos. A arte caucasiana está no contraste na cor e na forma, ligada ao brilho da cor.
Mas, esta arte apresenta duas estéticas diferentes. Uma é arrojada, espaçosa e retilínea. A outra é delicada, intrincada e curvilínea. Metaforicamente, pode-se ver a primeira como relacionada ao quadrado, ao que é austero e que remete aos tapetes turcos. Da mesma forma, a segunda pode estar relacionada ao círculo, ao que é delicado e aos tapetes persas. Embora frequentemente haja uma mistura de estilos, esta polaridade é subjacente à grande parte dos tapetes caucasianos.
Materiais
A lã brilhante e macia produzida pelos incontáveis rebanhos de ovelhas que vivem nas terras em grande parte áridas do Cáucaso sempre foi o material básico utilizado na tecelagem de tapetes. O pelo, a urdidura e a trama de quase todos os tapetes caucasianos são feitos com lã. O algodão é usado apenas em raras ocasiões. No entanto, nos tapetes produzidos em massa dos dias de hoje, a urdidura e a trama são feitas de algodão.
De um modo geral, o pelo de lã de um tapete é feito com duas camadas, ou seja, é composto por dois fios torcidos juntos. A urdidura e a trama são de espessura variável, dependendo da região, mas sempre de múltiplas camadas.
Nós dos tapetes caucasianos
O que forma o tapete é o conjunto nós atados a sua urdidura. Os nós da maioria dos tapetes do Cáucaso são atados à maneira turca, isto é, com um nó simétrico, também chamado de nó Ghiordes. Neste caso, dois fios da urdidura (fios na vertical) são unidos através do fio da lã pelo qual será atado o nó (fio verde-claro). A superfície do tapete formada por estes nós é então cortada e aparada até que atinja uma altura uniforme.
Como este tipo de nó envolve completamente os dois pares de fios da urdidura, o resultado é um tapete extremamente resistente e durável, mas leva mais tempo para ser feito em comparação aos tapetes que possuem outros tipos de nó, como o persa por exemplo. O nó utilizado nos tapetes caucasianos é o mesmo nó empregado nos tapetes turcos e possui uma trama muito consistente.
No método de urdidura única na tecelagem de tapetes, os fios da urdidura ficam no mesmo nível, enquanto na urdidura compactada, os fios da urdidura são abaixados e levantados alternadamente, sendo que aqueles que ficam na parte inferior não são muito visíveis. Este é o método empregado nos tapetes caucasianos e apresenta a vantagem de se produzir um tapete com uma trama muito mais firme.
A maioria dos tapetes caucasianos é confeccionada com uma urdidura compactada e, portanto, apenas parte de cada nó fica visível. Excepcionalmente, alguns tipos de tapetes Kazak e Shirvan têm toda a urdidura no mesmo nível, e nestes casos, o nó é completamente visível no verso do tapete.
O tingimento da lã
O encanto particular dos tapetes caucasianos reside na beleza das suas cores, na maioria em tons fortes e robustos, mas que não perdem harmonia em suas combinações. Os tintureiros, habilidosos artistas versados na preparação dos seus materiais, conseguiam obter tons quentes e profundos, brilhantes e discretos. Com expertise na interação entre as cores – seja pela harmonia ou pelo contraste – conseguiam criar efeitos surpreendentemente expressivos. No Cáucaso, o verde é muito usado, cor que quase nunca é encontrada em tapetes de outras regiões.
No século XIX, esta arte estava no seu auge. A introdução de corantes químicos ocorreu mais lentamente nesta parte do mundo do que em outros lugares. Até o início do século XX, os artistas preferiam trabalhar com a coloração natural, conhecimento tradicional baseado em fórmulas. Os corantes químicos, embora conhecidos desde 1865, foram adotados muito lentamente e não em todas as regiões.
Padrões
Geralmente, os tapetes caucasianos apresentam os padrões de design da vila em que foram produzidos, mas a imaginação individual dos artistas era livre ao fazer um tapete, pois existe de fato uma variedade infinita de padrões. Embora cada motivo possuísse um significado, esses significados se perderam ou se transformaram com o tempo.
O tapete caucasiano, com seus desenhos predominantemente geométricos, é uma arte. Na realidade, revela um incrível talento inventivo aliado a uma consistente maturidade. As regras estritas que regem a iconografia nunca restringiram o ímpeto dos designers dos tapetes. Na verdade, os padrões apresentam uma eficiente estilização e expressam grande encanto com motivos bastante simples constituídos por figuras, animais, flores, estrelas, quadrados e losangos, representados de forma bem esquemática e frequentemente posicionados sem dar muita atenção à simetria.
