Os tapetes orientais nos dão prazer porque embelezam nossos lares. No entanto, apenas poucos tapetes podem ser considerados obras de arte e investimentos de longo prazo. São poucas as verdadeiras antiguidades que datam do início do século XIX até a virada do século XX. Os tapetes que foram feitos durante este período, são considerados expressões artísticas dos grupos nômades que viviam em acampamentos isolados da Pérsia, do Cáucaso, da Turquia e do Turcomenistão. Usando teares portáteis, eles continuamente reinterpretaram figuras de seus clãs transmitidos por muitas gerações.
Tapetes de nível artístico também foram tecidos nos teares das cidades maiores onde os clientes encomendavam nos ateliers a confecção dos melhores tapetes em que os artistas levavam até 15 anos dedicados a um único projeto. Em todo o Oriente Médio e na Ásia Central, noivas e noivos encomendavam tapetes para expressar um ao outro a profunda afeição pela vida em comum que não formulavam em palavras. Em muitos casos, eles os presenteavam ao seu cônjuge no dia do casamento. Os pais teciam tapetes para transmitir aos filhos a rica herança simbólica de seu grupo cultural. Os professores teciam para comunicar os aspectos mais profundos de seus ensinamentos.
Mas, os tapetes não foram criados apenas como peças de arte. Eles também serviam a uma variedade de propósitos como almofadas no deserto, capas para suas cargas e de porta na entrada dos seus yurts. Os melhores tecelões se esforçaram para empregar cada técnica da maneira mais perfeita possível. As muitas atividades envolvidas na confecção de um tapete – criar ovelhas, fiar a lã, fabricar os corantes de fontes naturais puras, amarrar manualmente centenas de milhares, ou mesmo milhões, de nós – fizeram da tecelagem de tapetes uma das formas de arte mais trabalhosas.
Este longo e trabalhoso processo de tecelagem que existiu até o fim do século XIX foi rapidamente transformado à medida que os tapetes começaram a ser produzidos para exportação para a Europa. Nas décadas de 1920 e 1930, a pressão para satisfazer as exigências decorativas do mercado ocidental levou à criação de grandes oficinas em toda a Ásia Central. Medidas que visavam economia de tempo foram empregadas. Os corantes naturais que levavam tempo para serem produzidos, com sua vasta gama de matizes de cores, foram substituídos por corantes químicos fáceis de preparar, mas agressivos. Isso comprometeu para sempre o nível da arte têxtil até então praticada, diluiu a enorme gama de design do repertório dos clãs empregados nos tapetes e ainda frustrou a inspiração dos artistas. Em pouco mais de uma geração, a fabricação de tapetes tornou-se uma indústria cuja maior motivação era a produção em grandes quantidades de peças decorativas.
Com estas duas categorias de tapetes hoje disponíveis – decorativos e peças de arte – como é possível reconhecer um tapete oriental que possua um nível artístico? Independentemente da região em que foi tecido, o tapete considerado como arte é uma expressão artística única, com um impacto visual arrebatador, que afeta quem o observa. A utilização de materiais da melhor qualidade é primordial. Um tapete de nível artístico oferece um matiz de cores profundamente harmonioso, resultante do uso especializado de corantes naturais puros, que gradualmente suavizam com o passar do tempo. Os melhores mestres da tintura eram químicos talentosos que criavam cores únicas e produziam profundidade visual.
A variedade de tons raramente encontrados é um sinal significativo da arte têxtil. Por exemplo, uma variedade exuberante que vai desde o verde de celadon a esmeralda era produzida a partir de um longo processo do tingimento de lã azul índigo com um corante amarelo, obtido da casca de cebola ou do açafrão. A criação do vermelho rubi a partir de uma espécie de besouro ou da púrpura extraída dos caracóis marinhos também exigia uma mão de obra altamente qualificada. O uso de lã de primeira qualidade também é de importância primordial. Isso pode ser visto na luminosidade que a lã confere ao tapete e como ela potencializa a saturação dos corantes. A melhor lã é elástica e repleta de lanolina natural que se sente ao toque. É literalmente um material vivo e durável.
Muitos tapetes de nível artístico são explorações brilhantes da linguagem dos padrões geométricos do clã do artista ou de uma região específica. Outros demonstram grande singularidade e raridade em seu design e cor. Em ambos os casos, a marca individual de seus fabricantes está presente. No entanto, o atributo mais importante é também o mais intangível. Para que um tapete seja considerado de nível artístico, ele deve possuir um nível de beleza que seja literalmente de tirar o fôlego e deve emanar um profundo senso de equilíbrio e harmonia. Um tapete de nível artístico é um trabalho impressionista, inspirado na glória do nascer do sol, no esplendor de um campo de flores silvestres, na força e na dignidade de uma montanha ou no insondável número de estrelas visíveis em uma noite sem nuvens. Expressa o sublime, capturando perfeitamente o atemporal.
Vários dos primeiros modernistas foram cativados pela arte dos tapetes. Os cubistas, por exemplo Klee e Kandinsky, estudaram as formas abstratas dos tapetes em busca de uma nova estética não representativa. Matisse ficou encantado com o uso inventivo da cor nos tapetes, assim como Paul Gauguin, que incentivou seus colegas a estudarem os tapetes para aprenderem o emprego do uso de cores. Hoje, uma nova geração de colecionadores está descobrindo o que esses pioneiros da arte moderna reconheceram há muito tempo, que o conhecimento de combinar cor e design em tapetes de nível artístico é tão magistral quanto qualquer pintura ou escultura.
Um dos maiores desafios para o novato e entusiasta de tapetes de nível artístico é que a maioria dos mestres nunca assinaram suas obras. Um tapete antigo é uma arte anônima. Grandes tapetes não são afetados pelas tendências da cultura pop ou pelo status dos artistas ou pelos seus compradores. Um tapete antigo deve ser julgado por seus próprios méritos, pelo grau de sua arte e pela profundidade do impacto que tem no espectador experiente.
Para aqueles que desejam descobrir tapetes de nível artístico, certamente é útil ler um pouco da literatura disponível sobre tapetes orientais. No entanto, o que é mais enriquecedor é educar a visão. Isso só pode ser alcançado observando o maior número possível de tapetes de diferentes níveis de qualidade. Neste processo, você pode descobrir como alguns tapetes afetam o seu coração e animam a sua mente de uma maneira profunda e penetrante. Em última análise, é por esse efeito interno em movimento que você pode reconhecer aqueles tapetes antigos que são verdadeiras obras de arte.
