Na Ásia, tapetes são obras de arte tecidas produzidas em todos os níveis da sociedade. As mulheres tecem por séculos nas aldeias em todo o Oriente Médio e Ásia Central. Suas criações artísticas eram comercializadas ou feitas para uso pessoal. Qualquer que fosse o caso, os tapetes não cumpriam apenas uma função utilitária – eram também uma expressão visual da mente do artista.
No entanto, os tapetes também eram confeccionados nas cortes de alguns impérios. Eram obras de arte que indicavam o status e a riqueza de seus proprietários. Os tapetes feitos para a corte eram usados nas salas de recepção dos palácios, nas câmaras de audiência do imperador e nas instituições religiosas apoiadas pela corte. Os tapetes feitos nas oficinas reais também eram dados de presentes a outros governantes. As iluminuras dos manuscritos dos séculos XVI e XVII mostram que tapetes menores costumavam ser colocados em cima de tapetes maiores e mostram também que os tapetes eram usados em áreas abertas como nos pavilhões e parques dos palácios.
Os governantes tinham acesso a materiais caros, como a seda e fios envoltos em metal, e empregavam os artistas, designers, tintureiros e tecelões mais habilidosos de seus impérios para criar tapetes de dimensões palacianas e luxuosos. Devido à sua qualidade, design e maestria na execução, os tapetes das cortes estão entre as melhores peças de arte do mundo oriental. Estes tapetes são bem diferentes dos tapetes feitos nas oficinas comerciais ou nas aldeias. Em vez de empregar apenas motivos tradicionais, os tapetes da corte geralmente compartilhavam designs encontrados em uma variedade de mídias, como nas pinturas e iluminuras dos manuscritos da época, por exemplo.
Embora os tapetes fossem feitos em muitas cortes reais, os impérios Otomano (1281–1924), Safávida (1501–1732) e Mughal (1526–1858) fornecem os exemplos mais requintados de tapetes produzidos para a realeza.
Tapetes da corte otomana
O Império Otomano teve sua origem na Anatólia (atual Turquia) e foi um dos maiores e mais longos do mundo. Controlou territórios que abrangiam o norte da África à Europa Oriental entre 1299 e 1923. A Anatólia é uma região com longa tradição na confecção de tapetes, mas a partir do século XVI, os tapetes da corte otomana passaram a apresentar um conjunto de desenhos específicos criados pelos artistas das oficinas reais, designs que também eram usados nas cerâmicas da corte, pinturas, nos manuscritos e tecidos.
Palácio Topkapi, Istanbul, Turquia
Um dos designs mais utilizados era conhecido como “estilo saz”, feito com folhas longas e sinuosas e com flores estilizadas. Os artistas da corte também desenvolveram o “estilo floral”, onde vemos representações mais naturalistas de tulipas, rosas, cravos e jacintos, entre outras. Os estilos floral e saz podiam ser usados como os únicos desenhos de todo o tapete ou eram empregados em conjunto com outros motivos, como o padrão cintamani (geralmente uma combinação de círculos perolados acompanhados de linhas onduladas, às vezes chamadas de “listras de tigre”), em uma enorme variedade de objetos desenhados pela corte, incluindo cerâmicas, sedas, tapetes e manuscritos.
Tapete da corte otomana com padrão cintamani, século XVI. The Metropolitan Museum of Art, Nova York.
Este tapete feito nas oficinas reais otomanas do século XVI, apresenta uma larga borda com grandes flores em sequência, emoldurando a extensa superfície do tapete com o design chintamani. Um medalhão circular ocupa o centro, com um motivo de flor-de-lis em sua parte superior e inferior formando um eixo vertical. Acredita-se que o design do medalhão central e os quatro medalhões dos cantos se originaram das encadernações decorativas feitas nos livros.
As imagens abaixo mostram o emprego do design saz pelas oficinas da corte Otomana. À direita, o detalhe de um esplêndido tapete, com folhas no design saz, flores de lótus estilizadas e espirais de nuvens onduladas feito entre os séculos XV e XVI. Compare com o design saz do tapete com o design do azulejo da imagem à esquerda. Neste azulejo do século XVI, há uma rica variedade de motivos individuais, incluindo a folha longa e serrilhada do estilo saz que é sobreposta com uma tulipa branca e vermelha e colocada ao lado de botões de ameixeiras e de outros medalhões florais.
Ambas as peças se encontram no The Metropolitan Museum of Art, NovaYork.
As ilustrações dos manuscritos da época mostram como os tapetes eram usados na corte otomana. Na pintura abaixo, encomendada pelo sultão Murad III, observa-se um dignitário safávida sendo apresentado ao sultão otomano e como pano de fundo há um magnífico tapete Ushak nas cores vermelho e azul, com um medalhão central. A miniatura mostra como os tapetes eram usados não só como arte, mas também como rituais de poder na corte otomana. Além de criar um cenário suntuoso para a cerimônia realizada no Palácio Topkapi em Istanbul, o tapete envia uma mensagem aos safávidas (dinastia persa rival dos otomanos) sobre a riqueza da corte otomana. Um tapete deste era usado para demonstrar aos visitantes da corte o poder, a cultura e as realizações artísticas dos otomanos.
Tapetes da corte safávida
Os Safávidas governaram a Pérsia do início do século XVI ao século XVIII. Profundos amantes das artes, os tapetes da corte Safávida são conhecidos por sua precisão nos mínimos detalhes, emprego de materiais da melhor qualidade e por seus designs suntuosos.
Os tapetes feitos para a corte safávida destinados a ambientes formais como instituições religiosas, por exemplo, exibem designs não figurativos, como videiras, motivos florais, caligrafia e shamsas (sol radiante), como é o caso do famoso tapete Ardabil. Já os tapetes feitos para ambientes mais descontraídos, como os usados nos pavilhões do palácio, exibem uma gama mais ampla de motivos, abrangendo figuras humanas, animais e cenas de caça.
Detalhe do medalhão central (shamsa) do tapete Ardabil, feito no século XV, Victoria & Albert Museum, Londres.
A imagem abaixo é um notável exemplo de um tapete feito para a corte safávida para ser usado em um ambiente menos formal. Foi tecido inteiramente em seda e seu campo reluzente é profusamente rico em figuras animais – algumas reais, como leões e carneiros, e outras fantásticas. Os animais, alguns dos quais encontram-se envolvidos em combates intensos, estão situados em meio a um cenário exuberante de flores e árvores estilizadas. Os cenários de caça sempre foram bem populares na Pérsia. Desde os primórdios da história persa, a caça é considerada um passatempo e continuou um tema amplamente utilizado na arte safávida.
Embora o tema do tapete seja a caça, o seu design apresenta um jardim paradisíaco com abundância de árvores e animais. A água que corre pelo jardim é apresentada pelos medalhões azuis menores, que lembram piscinas interligadas. Já os dragões, a fênix e os qilins (criaturas da mitologia chinesa), e especialmente os seres celestiais alados, ou huris, em cada um dos medalhões conferem um tom de fantasia.
Detalhes do tapete
Com o passar dos séculos, esta obra-prima continuou nas mãos da nobreza e da realeza, embora não necessariamente usado em ambientes informais. No início do século XX, o tapete foi colocado na Abadia de Westminster por ocasião da coroação do rei Edward VII e ficou conhecido como o “tapete da coroação”.
Pintura da coroação do Rei Edward VII em 1902 onde o tapete é exibido na Abadia de Westminster diretamente em frente ao trono do rei. Hoje, a peça encontra-se no Los Angeles County Museum of Art
Tapetes da corte mughal
Os Mughals controlaram grande parte do subcontinente indiano entre 1526 e 1858, governando uma população predominantemente hindu. Pertencentes a uma linhagem proveniente das dinastias mongóis da Ásia Central, a dinastia Mughal logo estabeleceu oficinas de tapetes nas suas cortes.
Os primeiros Mughals empregavam artistas persas e, por esta razão, inicialmente, os tapetes Mughal apresentam em grande parte designs parecidos com a tradição persa. Com o tempo, um repertório visual exclusivamente Mughal passou a ser criado para os tapetes da corte, bem como para as pinturas em miniatura e outras artes.
Assim como ocorreu com as cortes otomana e safávida, os designs dos tapetes mughal contêm paralelos diretos com as ilustrações dos manuscritos. Dentre as representações da vida na corte, é comum ver os governantes sentados em cima de tapetes finamente executados.
Miniatura Mughal do século XVII retratando o imperador Timur sentado sobre um tapete
Os tapetes da dinastia Mughal são bastante variados em sua estética. Desenhos florais naturalistas podem ser encontrados em uma ampla gama de mídias da corte Mughal. O apogeu destas artes ocorreu durante o reinado do Shah Jahan, o patrono do Taj Mahal. Seguindo esta tradição, esta maravilha arquitetônica incorpora desenhos florais em seu estilo.
Geralmente, os tapetes apresentam designs detalhados de plantas e animais, refletindo o interesse destes imperadores pelo mundo natural. É comum encontrar tapetes apresentando um cenário de vegetação luxuriante e naturalista, com uma rica variedade de pássaros e outros animais. Já outros tapetes possuem um design de flores entrelaçadas com diversos motivos florais. Embora as cenas naturalistas e realistas, assim como temas de caça e registros históricos sejam frequentes, a arte mughal compreende também designs mais abstratos.
A imagem abaixo é de um tapete feito para o imperador Shah Jahan. É um dos quatro tapetes pashmina do século XVII que ainda se encontram em mãos privadas. Obra-prima da mais alta qualidade, este tapete tem o design de flores entrelaçadas. Mesmo com mais de quatro séculos, as suas cores e designs permanecem brilhantes, por terem sido feitos com os materiais mais finos e luxuosos. A base do tapete é feita em seda e o pelo da pashmina é feito da cabra montesa, o pelo mais fino e valioso que existe.
