Você pagaria £ 5.442.000 por um tapete? Sim!

No dia 27 de outubro de 2022 a famosa casa de leilão Christie’s de Londres vendeu um raro tapete imperial Mughal feito por volta de 1650 por mais de cinco milhões de libras. Por que alguém estaria disposto a pagar esta exorbitante soma por um pequeno tapete antigo?

Este raro tapete pertenceu à corte do imperador Shah Jahan da Índia, o mesmo que construiu um dos monumentos mais belos do mundo, o Taj Mahal. Considerado uma obra-prima da mais alta qualidade e nunca antes leiloado, este tesouro real produzido nas oficinas da corte é um dos únicos quatro tapetes pashmina do século XVII que permanece em mãos particulares. Com base nas informações dadas pela diretora do Departamento de Tapetes Orientais da Christie’s de Londres, Louise Broadhurst, explicamos o seu alto valor artístico.

Tapetes feitos com este material são extremamente raros. Apenas oito tapetes pashmina preservados na sua inteireza, feitos no império Mughal do século XVII são conhecidos, sendo que sete deles se encontram em museus. Além destes, existem treze fragmentos de tapetes pashmina, sendo que dez estão em coleções institucionais, dois estão em locais desconhecidos e um deles (o tapete tratado aqui) encontra-se em mãos particulares.

Imperador mughal Shah Jahan do século XVII

Mughal Pashima, século XVII

Este tapete foi tecido por volta de 1650 para a corte de Shah Jahan, que reinou entre 1628 – 1658, o quinto imperador do império Mughal que governou o norte da Índia. Além de amante das artes, Shah Jahan era um patrocinador, encomendando inclusive a construção de edifícios esplêndidos como o Taj Mahal e o Forte Vermelho em Agra. Ele financiou os ateliês reais de tapetes que haviam sido criados por seu avô, Akbar que reinou entre 1556 – 1605, primeiro em Fatehpur Sikri e em Agra, e mais tarde em Lahore e na Caxemira.

Na maioria das tradições de confecção das artes têxteis, a seda é a fibra mais valiosa na produção de tapetes. Entretanto, durante a era Mughal, o tecido conhecido como pashmina superava o valor da seda. A pashmina é feita com o pelo extremamente fino da cabra montesa que habita as montanhas do Himalaia.

Os tapetes pashmina feitos durante o período do império Mughal, principalmente durante o século XVII, estão entre os melhores do mundo. Cada fibra de pashmina tem cerca de um sexto da largura de um fio de cabelo humano. O conjunto de nós encontrados numa área de um centímetro quadrado está além do que uma pessoa consegue enxergar. Um tapete cuja a base é feita de seda fina e com os nós extremamente finos da pashmina, permite ao artista criar os mais belos designs curvilíneos bem como fazer com perfeição os detalhes de representação naturalista em alta definição. A lustrosa lã pashmina é de uma qualidade tão excepcional que apenas um imperador poderia encomendar um tapete deste tamanho feito com materiais tão valiosos.

A trama deste tapete é extremamente fina, com uma média de 500 nós de pashmina por centímetro quadrado tecidos sobre uma base de seda. De forma que este tapete representa o mais alto nível de qualidade encontrado na corte Mughal em meados do século XVII. O tapete tem um formato quadrado, mas no passado, foi encurtado. Originalmente o comprimento era de aproximadamente 4,4 metros. Atualmente, mede 2,75 metros por 2,74 metros.

Os artistas indianos eram mestres na arte da tinturaria e possuíam materiais de qualidade inigualável. O tecido extremamente fino da pashmina, por ser proveniente do pelo das cabras montesas, é rico em lanolina permitindo que os artistas criassem cores belamente saturadas. 

As cores deste tapete são profundas e reluzentes. Os corantes mantiveram intensa saturação, mesmo com o passar dos séculos. A tinta no tom vermelho carmesim foi feita por tintureiros extremamente habilidosos com base em uma substância do inseto kerria lacca, a mesma usada para fazer a chamada goma laca indiana.

Quanto ao design, o tapete é divido em forma de diamantes cujo contorno é formado por frondosas treliças contorcidas que criam compartimentos fechados na área do tapete. Cada compartimento contém flores como lírios (brancos), girassóis (amarelos) e possivelmente celosias (vermelho, rosa e branco) sobre o campo de um vermelho carmesim profundo e reluzente. O design da borda principal apresenta videiras interligadas com motivos florais. Essas videiras, também dispostas sobre o fundo vermelho, contêm pequenas nuvens estilizadas derivadas da tradição chinesa. A borda principal é emoldurada por duas bordas menores e idênticas, preenchidas com uma videira contínua carregada de pequenas folhas e flores. A trama extremamente fina do tapete permite a apresentação destes minuciosos detalhes, principalmente o desabrochar das flores nas treliças e nas videiras entrelaçadas da borda principal.

O artista que teceu este tapete empregou a técnica conhecida como sombreamento. É como se o artista “pintasse” ao fazer os nós. O sombreamento consiste na justaposição de cores próximas sem que o artista faça um contorno entre elas evitando que haja uma divisão no desenho. O resultado é um efeito escultural ou tridimensional do design, realçando assim o naturalismo das folhas e das flores. O sombreamento produziu um efeito suntuoso pela sequência dos tons verdes claro e escuro no design das treliças (veja a imagem abaixo à esquerda).

Em uma segunda técnica dominada pelos artistas indianos chamada de “mistura de cores”, os nós de duas cores diferentes são tecidos um ao lado do outro, alternando como se fosse um desenho de um tabuleiro de xadrez. O resultado é o efeito visual de um terceiro tom. Esta técnica contribui para realçar o efeito da representação naturalista, e o mais importante, amplia a gama de cores do artista. Os artistas persas representavam a água dessa maneira, justapondo os nós azuis com os brancos para criar um efeito cintilante. Esta técnica foi amplamente utilizada nos tapetes indianos. As pétalas vermelhas deste tapete empregam esta técnica com eficácia. A área interna da flor na cor vermelha foi feita pela justaposição do nó vermelho com o nó branco e a área externa da flor na cor rosa foi criada pela justaposição do nó rosa com o nó branco. Cada pétala possui um contorno externo na cor preta, mas interiormente, as cores das pétalas vermelho e rosa se fundem pela ausência do contorno (veja a figura abaixo à direita).

O emprego destas técnicas permitiu a criação de uma perspectiva que realça o efeito naturalista de cada flor. O objetivo era produzir o efeito visual similar ao encontrado nas coleções de aquarelas que reproduziam plantas e flores de forma precisa. Estas pinturas de origem europeia serviram de inspiração para a produção da arquitetura interior e dos móveis utilizados na corte que, assim como este tapete, apresentam o design naturalista de flores. A imagem abaixo proporciona um pequeno vislumbre de como este tapete poderia ter sido usado em um palácio do século XVII.

Esta obra-prima é um raro tapete sobrevivente da arte produzida pela corte Mughal do Shah Jahan. Possui cores vivas e uma estética sublime. A peça foi feita com pashmina e seda, os materiais mais luxuosos e caros pertencentes a uma antiga tradição da tecelagem de tapetes. A inigualável habilidade do artista na mistura de cores e no emprego da técnica do sombreamento produziu um efeito escultural e tridimensional do design naturalista. É difícil encontrar este conjunto mais que perfeito de materiais e habilidades que só poderiam ter resultado em um dos melhores tapetes do mundo! Criado por um designer visionário e sensível e encomendado por um rei com recursos ilimitados e amante das artes e da natureza, este é um tapete extraordinário que deve ser admirado por sua qualidade insuperável e execução magistral.

Este tapete foi colocado na mansão Elveden Hall em Suffolk na Inglaterra. Ela foi adquirida em 1863 pelo Marajá Duleep Singh, o último governante do império Sikh. O interior do edifício foi reformado para se assemelhar aos palácios Mughal de sua infância

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Época (circa)

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18501970

Medidas

Largura
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57cm366cm
Comprimento
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110cm626cm

Categorias

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Tipo de venda

Valor

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$3,282$306,343

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